
TEXTOS NARRATIVOS / DESCRITIVOS II 24h
APRESENTAÇÃO
Atravessado pela História, o romance saramaguiano foge à génese do romance histórico tradicional, integrando uma dimensão original do romance contemporâneo. Problematizando a História, Memorial do Convento faz uma análise detalhada de acontecimentos, apresentando a sua versão romanesca e interagindo com o que de fictício a História sugestiona. Neste contexto, o romance apresenta uma instância que controla a narrativa, no sentido de reinterpretar a História, utilizando propositadamente juízos críticos e valorativos, perpassados de ironia. A orientação da narrativa torna-se claramente ideológica, demonstrando uma especial preferência pela transgressão - transgressão face aos valores e à ordem vigente e transgressão discursiva - numa postura irreverente no modo como olha o passado e o evoca. Contacta-se, assim, com um discurso anti-épico, que assume um posicionamento de contra-poder e pretende desmascarar prioritariamente o presente português. Assim, o tempo da escrita para o qual somos constantemente remetidos sobrepõe-se, afinal, ao tempo da História, entendido como momento petrificado e potencial subversivo, num processo dinâmico no qual se tece uma relação de cumplicidade lógica entre narrador e leitor. Mas encontramos, também, neste romance, uma das mais belas e épicas páginas: o caminho percorrido pelos trabalhadores ao transportarem as pedras de Pêro Pinheiro até Mafra. São os trabalhadores, aqueles que habitualmente são marginalizados pela História afinal, quem aqui desempenha um papel preponderante, elevados à categoria de heróis pelo seu esforço e pela contingência do seu trabalho. Nestas páginas, o povo adquire forma e identidade, nem que para isso a ficção tome a incumbência de nomeá-lo para lhe dar vida, preenchendo as zonas esquecidas dos sem-história.
A escrita romanesca é produtora de mitos. Ao ensaiar ideias, ao criar os seus próprios códigos,
ao (re)inventar o discurso ficcional, Saramago coloca em questão a temática da construção -
construção de um convento, construção de uma passarola, a obra literária enquanto construção -
onde "coexiste um sentido de compaixão humana, (...) dilaceradoramente profundo, com um sentido
de solidariedade que se reflecte (...) num requintado respeito pelo leitor, a quem se pede - ou se deduz - que reflita, analise e se torne consciente.
CONTEÚDOS LITERÁRIOS
Leitura e Educação Literária
- Textos informativos diversos
- Memorial do Convento, de José Saramago
Compreensão / Expressão Oral / Expressão Escrita
- Entrevistas do autor
- Exposição
- Debate
- Documentários
- Dissertação